Quando planejamos uma viagem, precisamos de mapa, rota e direção. Não basta sair dirigindo sem saber para onde ir. Saber o ponto de partida, definir o destino e construir o caminho passo a passo sempre foi a maneira mais segura de chegar ao objetivo. No planejamento financeiro é exatamente igual. Nada substitui a clareza e a disciplina. Em outras palavras, assim como ninguém usufrui de uma boa viagem sem preparo, ninguém constrói um futuro financeiro consistente sem um plano estruturado de longo prazo.
A minha experiência no Planejamento Financeiro
Ao longo dos anos trabalhando com famílias, percebo um padrão que se repete independentemente de renda, escolaridade ou fase da vida. As pessoas afirmam que se organizam financeiramente. Muitos acreditam já ter esse mapa. Porém, quando analisamos tudo considerando os seis componentes que norteiam o planejamento financeiro completo, percebemos que ainda existe uma grande distância entre a intenção e a prática.
O que ocorre é que as famílias e pessoas não seguem coordenadas, não medem distância percorrida e não ajustam a rota quando necessário. E agora, com a nova pesquisa feita pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro) em parceria com o Datafolha, essa percepção empírica se confirma em dados concretos.
Esse retrato me fez refletir sobre o quanto ainda precisamos evoluir, mantendo o olhar holístico que sempre guiou o planejamento financeiro pessoal: organização, segurança, patrimônio e longo prazo. O estudo termina por revelar que existe um padrão, e ele é coletivo. Ele é brasileiro.
Planejamento financeiro no Brasil: os dados!
A pesquisa revela que grande parte das pessoas se considera planejada, mesmo que insatisfeita com a própria situação financeira. Isso mostra que ainda não incorporamos plenamente o planejamento financeiro no nosso dia a dia.
Quando analisamos o comportamento real, vemos que 39% gastaram mais do que receberam no último ano. Isso significa que o fluxo não está equilibrado. Em uma viagem, voltando a nossa analogia, é como se usássemos mais combustível do que a rota permite. A consequência seria óbvia: pararíamos antes do destino final. Nas finanças é igual.
Além disso, muitos conseguem pagar as contas, mas não conseguem poupar. E quando não sobra, não existe construção patrimonial. Aqui, o paralelo seria: viajar sempre no limite do combustível, sem margem para uma mudança de trajeto, sem segurança diante de imprevistos. Basta um imprevisto, e todo a viagem entra em colapso.
Outro componente do planejamento financeiro é a sucessão. As famílias precisam saber como o patrimônio será distribuído aos herdeiros. No entanto, apenas uma pequena parcela possui plano formal (7%). Isso ainda é um tema tabu e distante da prática do brasileiro.
E quando falamos de aposentadoria, vemos mais um descompasso. Quem ainda não se aposentou acredita que terá outras fontes de renda além do INSS, enquanto quem já está aposentado depende majoritariamente dele. Isso mostra que ainda projetamos futuros desejados sem construir meios reais para alcançá-los.
Planejamento financeiro não deve ser feito de improviso. Ele precisa de método, constância e visão de longo prazo. Exige revisar rotas, acompanhar indicadores, ajustar rumos quando necessário. Assim como fazemos em uma viagem bem planejada.
A boa notícia é que o brasileiro já avançou na consciência. Mas, agora precisa avançar na execução. A prática disciplinada do planejamento financeiro continua sendo o caminho mais seguro para proteger o presente, construir patrimônio e garantir um futuro com estabilidade.
