
Dopamina e finanças? Será que existe alguma correlação entre os dois? O que a química do cérebro teria a ver com suas escolhas de consumo, seus investimentos e até com aquela dificuldade em guardar dinheiro para o futuro? Será que o mesmo impulso que nos faz buscar prazer imediato pode estar sabotando nossa vida financeira?
Pois é… Eu estou lendo o livro da Monja Coen e do Gustavo Arns: “Ser feliz: é possível?” e nas páginas 72 e 73, tem um trecho de um texto da neurocientista Carla Tieppo em que ela fala sobre como o açúcar, as drogas e as redes sociais fazem com que o nosso sistema dopaminérgico passe a desconsiderar o prazer de uma boa fruta ou de uma caminhada. Ela diz que: “O pior efeito das coisas viciantes é como elas depreciam o valor de uma vida simples”.
Claro que eu já fiquei com isso na minha cabeça e relacionei com as finanças. Afinal, você já parou para pensar por que é tão difícil resistir a certos impulsos de consumo? Muitas vezes compramos algo sem planejar, pedimos comida por aplicativo mesmo tendo comida em casa (que pode até estragar) ou passamos horas nas redes sociais admirando a vida “perfeita” dos outros. E, como a própria Carla explica, tudo isso tem uma explicação: a dopamina.
Dopamina e finanças: comportamento, recompensa e satisfação

A dopamina é um neurotransmissor ligado à recompensa. Ela nos dá aquela sensação de prazer e bem-estar quando comemos um doce, ganhamos curtidas em uma foto ou fazemos uma compra por impulso. O problema é que, quanto mais buscamos esses estímulos, o nosso cérebro se acostuma e exige doses cada vez maiores para sentir a mesma satisfação. É por isso que o comportamento pode se tornar viciante.
E quando ainda juntamos as redes sociais nessa fórmula, como explicam os autores do livro, o efeito fica mais claro ainda. Pesquisas mostram que, quanto mais tempo passamos rolando o feed, menor é a nossa satisfação com a própria vida. Isso porque estamos o tempo todo nos comparando com os outros que fizeram viagens incríveis, frequentam restaurantes da moda, roupas caras e carros de luxo.
Ainda que racionalmente saibamos que todo aquele conteúdo seja apenas um recorte da vida dessas pessoas, o nosso cérebro reage como se a vida deles fosse assim o tempo todo. Consequência disso: nos sentimos inferiorizados e tendemos a consumir mais e mais para não ficarmos de fora.
Esse mecanismo, além de prejudicar nossa autoestima, pode impactar diretamente as nossas finanças. O prazer rápido de uma compra impulsiva dura pouco, mas as parcelas do cartão podem nos acompanhar por meses. Entramos, assim, em um ciclo de buscar recompensas imediatas para compensar frustrações, mas que acaba aumentando ainda mais a sensação de vazio.
Dopamina e Finanças: o pior efeito colateral
O pior é que, com o tempo, vamos perdendo a capacidade de valorizar pequenas alegrias do dia a dia, como cozinhar em casa, caminhar ao ar livre ou brincar numa praça com os filhos. Quando o cérebro se acostuma apenas a estímulos intensos, o simples parece sem graça e isso nos torna ainda mais dependentes de experiências caras e insustentáveis.
Por outro lado, sabe quando faz bastante tempo que você não come aquele determinado chocolate e ele aparece na sua frente? A primeira mordida é ótima! Mas, se você comer uma barra, duas ou três… Vai ficar enjoado! E o prazer não será o mesmo. É por isso que os prazeres devem ser a exceção e não a regra. Se não for assim, eles deixarão de ter aquele sabor especial, como explica Gustavo.
A mudança de padrão…
Mas há uma boa notícia nisso tudo: é possível mudar o padrão…
O primeiro passo é tomar consciência de que esse ciclo existe. Em seguida, recomenda-se reduzir o tempo em redes sociais e procurar momentos de desconexão (eu comecei a fazer crochê, leia aqui o artigo em que falei sobre isso).
Outra estratégia é trocar recompensas imediatas por metas de longo prazo: em vez de gastar com uma compra por impulso, que tal direcionar esse valor para a viagem dos sonhos ou para o fundo de emergência? Precisamos diferenciar o prazer imediato da felicidade duradoura!
Também é importante celebrar pequenas conquistas como: guardar dinheiro todo mês, pagar uma dívida ou dizer “não” a uma compra desnecessária. Essas são vitórias que devem ser valorizadas. Assim, o cérebro aprende a associar prazer e dopamina não apenas ao consumo, mas também à sensação de segurança e progresso na organização das finanças. Aliás, essa sim seria uma associação consciente e bem direcionada.
A própria Monja lembra que a felicidade é transitória: existem momentos de plenitude e outros de insatisfação. Essa reflexão dela nos ajuda a entender que não precisamos buscar estímulos constantes para sermos felizes, faz parte da vida ter altos e baixos.
Por outro lado, o Gustavo nos mostra um outro ponto de vista: que a felicidade pode ser desenvolvida como uma habilidade, algo que se treina e se cultiva no dia a dia. Essas duas visões dialogam diretamente com a forma como lidamos com o dinheiro.
Se confundirmos felicidade com prazer imediato, tendemos a gastar sem pensar, sempre atrás de novas doses de dopamina. Mas se entendermos que felicidade é uma habilidade, passamos a investir em escolhas conscientes, como poupar para realizar sonhos, valorizar experiências simples e construir a nossa segurança financeira. A verdadeira liberdade financeira não está em comprar sem pensar, mas em ter controle sobre nossas escolhas. Quando deixamos de ser escravos dos impulsos e passamos a alinhar o uso do dinheiro com os nossos valores e objetivos, conquistamos algo muito maior do que prazer imediato: conquistamos paz e realiza