
Construir o bem-estar financeiro vai muito além de ter dinheiro na conta. Significa viver com segurança no presente e no futuro, e, ao mesmo tempo, ter liberdade no hoje e no amanhã.
Bem-estar financeiro e adaptação hedônica
Além disso, após uma conquista material, é comum que o nível de bem-estar volte rapidamente ao patamar anterior. Esse fenômeno é conhecido como adaptação hedônica: um processo em que as pessoas retornam ao seu nível basal de satisfação após mudanças positivas ou negativas. Isso ocorre quando nos acostumamos rapidamente com conquistas materiais e voltamos ao mesmo nível de satisfação de antes. Por isso, é comum sentir um vazio logo depois de comprar algo muito desejado.
Em outras palavras, a gente acredita que, ao conquistar algo, como um novo carro ou uma nova casa, finalmente seremos felizes. Mas essa alegria costuma durar pouco. Rapidamente nos acostumamos e voltamos ao nosso nível anterior de bem-estar. Por isso, o consumo desenfreado raramente traz satisfação duradoura.
E existe o outro lado também, pessoas que sofreram grandes traumas, como a perda de uma perna em uma guerra, por exemplo, não ficam eternamente tristes, com o passar do tempo, tendem a voltar ao estado anterior de felicidade.
O bem-estar e a renda
E aquela velha pergunta: dinheiro traz felicidade? Existe uma pesquisa famosa do Daniel Kahneman que revela que o dinheiro aumenta sim o bem-estar financeiro, mas até certo ponto. Segundo a publicação, a felicidade ficaria estagnada em um determinado patamar mesmo com um aumento de renda. Esse valor seria de aproximadamente 75 mil dólares por ano.
Isso quer dizer que, mesmo que a pessoa ganhe mais do que o valor acima, ela não teria um aumento no seu bem-estar. Porém, pesquisas mais recentes mostram que, para as pessoas mais felizes, o bem-estar cresce sim, com a renda. Somente entre os mais infelizes que esse crescimento se estabilizaria depois de certo ponto.
O bem-estar é maior quando compramos tempo, experiências e fazemos doações
Inclusive, a felicidade tende a ser maior quando usamos o dinheiro para comprar tempo, investir em experiências e compartilhar com outras pessoas.
Comprar tempo significa reduzir ou eliminar tarefas que nos sobrecarregam, como contratar alguém para cuidar de serviços domésticos, pagar por um transporte que nos economize horas no trânsito ou até ajustar a rotina de trabalho para ter mais momentos livres. Esse tempo conquistado pode ser usado para descansar, estar com a família ou dedicar-se a atividades que nos dão prazer.
Investir em experiências também está diretamente ligado ao aumento da felicidade. Uma viagem, um curso, um passeio ou até um almoço especial em boa companhia tendem a gerar lembranças e emoções que permanecem vivas por muito mais tempo do que a satisfação de adquirir um bem material. Experiências envolvem emoção, conexão e significado e, por isso, são mais resistentes à adaptação hedônica. Inclusive, já fiz outro texto sobre esse ponto. Leia aqui.
Já compartilhar com outras pessoas, seja por meio de doações ou ajudando diretamente quem precisa, ativa um senso de propósito e pertencimento. Estudos mostram que gastar com os outros pode aumentar a sensação de bem-estar mais do que gastar consigo mesmo. Esse ato de generosidade fortalece vínculos e reforça a ideia de que o dinheiro é uma ferramenta para criar impacto positivo.
Esse uso dos recursos costuma trazer mais satisfação do que simplesmente adquirir bens materiais.
O bem-estar financeiro depende de uma percepção subjetiva
Um exemplo: imagine uma pessoa que tem renda mensal estável, não possui dívidas e mantém uma planilha para acompanhar os seus gastos. Ainda assim, ela se sente insegura ao pensar no futuro, evita tomar decisões financeiras importantes e vive com receio de imprevistos. À primeira vista, esse comportamento parece contraditório. Mas ele mostra que o bem-estar financeiro não depende apenas da situação objetiva, e sim também da percepção de controle e segurança que cada um tem.
Por isso, cuidar do dinheiro não deve se limitar à capacidade de fazer aquisições. É preciso ir além e considerar como cada decisão impacta o nosso bem-estar. Planejar as finanças com esse objetivo em mente é o que nos permite viver com mais tranquilidade, aproveitar o presente e construir um futuro mais seguro.
O bem-estar financeiro deve ser, sempre, o maior objetivo.