Mauro era diretor financeiro de uma grande multinacional. Aos 37 anos, tinha uma carreira invejável, um bom salário, um carro novo e um apartamento em um bairro nobre. Mas, por trás dessa aparência de sucesso, enfrentava noites mal dormidas, dívidas crescentes e uma angústia constante.
Em outras palavras, apesar de cuidar com excelência das finanças da empresa, não conseguia colocar ordem nas suas próprias contas. Sentia vergonha da situação e tentava escondê-la a todo custo.
A pressão social e o desejo de manter o status pesavam. Mauro acreditava que precisava sustentar um padrão de vida compatível com sua posição profissional, mesmo que isso significasse se endividar.
Diante de tudo isso, e influenciado por diversos vieses comportamentais, como o efeito avestruz (evitar olhar o problema), o viés do otimismo (acreditar que tudo se resolveria) e o comportamento de manada (seguir o padrão do grupo), ele foi empurrando o problema com a barriga, até que a bola de neve se tornou insustentável.
Sua história revela algo que vejo com frequência no meu trabalho: pessoas inteligentes, bem-sucedidas e disciplinadas no ambiente profissional que, por questões emocionais, perdem o controle quando o assunto são as próprias finanças. Cuidar do dinheiro, afinal, não é apenas racional, temos emoções e comportamentos não tão adequados que despertam inseguranças e necessidades de pertencimento que muitas vezes nos afastam de decisões conscientes.
Depois de muita resistência, Mauro finalmente buscou ajuda profissional. Foi o primeiro passo para uma grande virada. Juntos, começamos a mapear dívidas, entender o fluxo de caixa e desenhar estratégias para sair do vermelho. Mais do que reorganizar planilhas, o processo envolveu autoconhecimento e mudança de mentalidade. Mauro precisou rever crenças herdadas, repensar o papel do consumo em sua vida e reconstruir a sua relação com o dinheiro.
O caso dele mostra que o planejamento financeiro vai muito além de números: trata-se de entender comportamentos, emoções e valores. Às vezes, o que falta não é conhecimento técnico, mas coragem e motivação para encarar a própria realidade e pedir ajuda. Quando conseguimos dar esse passo, abrimos espaço para uma vida mais leve, consciente e equilibrada.
Pois é… Essa história faz parte do livro Estudos de Casos em Planejamento Financeiro, voltado para os profissionais da área, do qual tive a alegria de participar como autora de um dos capítulos. A obra reúne histórias reais e inspiradoras de planejadores financeiros e seus clientes, mostrando na prática como o planejamento pode transformar vidas. No meu capítulo, contei em mais detalhes, justamente a história de Mauro, um executivo brilhante que, mesmo no auge da carreira, se viu mergulhado em uma profunda crise financeira.
Escrever esse capítulo foi uma forma de reforçar o quanto o autoconhecimento e a educação financeira caminham juntos. Planejar é se permitir construir uma nova história, mais coerente com quem somos e com o que realmente importa.

