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A verdade por trás dos juros reais

juros reais

Vamos falar sobre o que precisa ser dito sobre os juros reais… Recentemente conversei com investidores que acreditavam que poderiam utilizar todo o rendimento de suas aplicações para custear o dia a dia. Isso lhe soa familiar? Já pensou nisso? É verdade… A ideia parece simples: se o patrimônio permanecer “congelado” e apenas o rendimento for utilizado, tudo estará equilibrado. Com uma taxa de 15% ao ano, essa conta parece irresistível. Mas a conta não é bem essa… Infelizmente!

O problema é que essa situação considera apenas os juros nominais. Ela ignora dois pontos fundamentais: a inflação, que diminui o poder de compra, e o imposto de renda, que incide sobre o rendimento total. Quando incluímos esses fatores, o resultado final se transforma.

Vamos a um exemplo realista…

Exemplo prático sobre os juros reais

Imagine R$ 1 milhão investidos. Se a rentabilidade anual nominal for de 15%, o rendimento bruto no ano será de R$ 150 mil. Em investimentos de renda fixa com mais de 720 dias, aplica-se a menor alíquota de IR, que é de 15% sobre o rendimento nominal. Isso significa que o investidor pagará R$ 22,5 mil de imposto. Sobram R$ 127,5 mil líquidos. Já deduzimos, portanto o imposto, mas falta deduzir a inflação

Continuando, agora considere uma inflação acumulada de 4,50% no período (que estaria próxima da inflação atual de 12 meses). Esta inflação corrói parte do rendimento, deixando o juro real líquido próximo de 7,9% ao ano.

Ou seja, os R$ 150 mil informados no extrato não poderiam ser totalmente utilizados. O que realmente aumenta o poder de compra são os R$ 79 mil de ganho real líquido. Quando o investidor utiliza todo o rendimento nominal como se fosse ganho efetivo, ele consome mais do que a rentabilidade real do seu investimento e reduz o seu patrimônio em termos reais.

É também essencial lembrar que juros reais elevados são circunstanciais. Eles resultam de uma combinação específica de inflação decrescente e juros básicos (SELIC) altos. Não se deve planejar a vida financeira imaginando que essa situação durará para sempre.

Juros reais e a média histórica brasileira

Agora pensemos em um cenário mais alinhado à média histórica brasileira. A inflação brasileira anual costuma girar em torno de 6% ao ano. Imagine uma carteira bem diversificada que renda 6% anualmente em média acima da inflação. Teríamos uma rentabilidade nominal de pouco mais do que 12% ao ano. Sobre esse rendimento nominal, aplica-se os 15% de IR, resultando em rendimento líquido de 10,5%. Ao descontar a inflação de 6%, o juro real líquido cai para aproximadamente 4,25% ao ano.

Se a carteira for mais conservadora e render apenas 3% ao ano acima da inflação em média, o retorno nominal anual seria de um pouco mais do que 9%. Após o imposto de 15%, o rendimento líquido cai para 7,8%. Ao descontar a inflação de 6%, o juro real líquido fica em torno de 1,7% ao ano.

Traduzindo em valores: com R$ 1milhão investidos, o investidor poderia retirar, sem corroer o patrimônio e sem perder o poder de compra, próximo de R$ 42,5 mil ao ano no cenário da carteira diversificada e cerca de R$ 17 mil no cenário conservador. Em termos mensais, isso representa R$ 3,5 mil e R$ 1,4 mil, respectivamente. Se a pessoa possui R$ 2 milhões, os valores dobram. Se possui R$ 500 mil, basta dividir por dois.

Em outras palavras, nem dá para considerar que seria possível utilizar 6% de juros reais como retirada dos investimentos (e muito menos 10% que seriam aproximadamente os juros reais atualmente, considerando 15% da SELIC, com 5% de inflação), ainda mais se a inflação estiver muito alta. Como o imposto de renda recai sobre os juros nominais, que incluem a inflação, os juros reais ficarão menores ainda!

Portanto, a taxa nominal de 15% não pode ser considerada para sempre. Do mesmo modo, não se pode considerar que 15% é o rendimento que poderá ser sacado e utilizado mensalmente. Se isso ocorrer, haverá uma perda do poder de compra, e o patrimônio será diluído pouco a poco. O que determina a verdadeira capacidade de aumentar o poder de compra é o juro real líquido. É essa conta que constrói um patrimônio sólido ao longo dos anos. Tenha tudo isso em mente quando fizer a conta para saber quanto precisa para poder viver de renda.

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